sexta-feira, 9 de agosto de 2013

VALE A PENA ?


Vale a pena da vida querer
qualquer sutileza de amor,
se sempre o meu merecer
se exala em chamas de dor ?
 

Vale a pena do tempo levar
horas de imensa ternura,
se nunca me deixam enxergar
sequer o meu anjo em candura ?
 

Já nem sei do que vale viver.
Já nem sei de que vale tentar
que um momento me faça rever
as lembranças que eu pude amar.
 

Entre folhas bailando tão leves
na grama acordando molhada,
os meus passos surgiam por breve
vontade de correr encantada.
 

De prazer enfeitei meu caminho,
um destino a brincar satisfeito.
E por crer, ceguei-me no linho
ao ver que o haviam desfeito. 
 

Joguei  fora o meu pensamento.
Meu futuro caiu malogrado.
Só não vi que este tormento
me seria infiel desagrado.
 

Vale  a pena de mim esconder
que um dia já fui tão feliz ?
Se nele eu não posso mais crer;
só me resta viver infeliz …
 

ROSY FONSECA / 1983 Todos os direitos reservados .
 

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

POR QUE ?



Pergunto-me a cada dia,
a cada hora,
porque não encontro mais
ao meu redor, você ?
 

Neste jogo manhoso
restou seu riso marcado.
Na parede atrás da porta
permaneceu  seu retrato.
A sombra do seu jeito
nas pegadas do quarto.
 

Dentro da relva molhada
remanesceu seu perfume.
Ele surge a cada noite. 
Ele chega e me ameaça.
Entre os bancos sobrou
o ardor das suas palavras.
 

Assim e por toda a parte
existe um pouco de você,
existe o muito de nós dois.
Aquela súbita veemência
que entregou o meu corpo
na paixão do calor do seu .
 

Naquela cena fechada,
na escuridão de uma noite.
Laça todo esse tempo.
Arrebata o meu coração.
Fica o seu rosto discreto,
agora os meus beijos no ar.
 

Persiste você em meus sonhos.
Uma inquietude em meus passos
que me atormenta viver.
Uma vida quase sem nexo.
Um espelho turvo, convexo.
Uma imagem sem mais reflexo.
 

Pergunto-me a cada dia,
a cada hora,
porque não encontro mais
ao meu redor, você ? 

Rosy Fonseca / 1978. 

Todos os direitos reservados .