terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Você


Te conhecer foi como olhar o céu
em noite escura sem estrelas, nem lua.
Perdida, confusa, envolta em fino véu ,
onde a brisa do mar esvoaçava-me desnuda.
 

Olhar em teus olhos o azul mais profundo .
Correr com os meus à procura infinita .
Enxergar cegamente o que escondo do mundo,
e dentro dos teus encontrar-me finita .
 

Nem o cinza mais escuro das nuvens .
Nem as pedras das ruas audaciosas .
Nem os sons tangentes dos que ouvem .
Nem as visões distorcidas e assediosas .
 

Jamais eu concederia interromper o momento.
Jamais eu concederia retroceder os ensejos.
Tão pouco a chuva, a ventania, o tormento.
Tão pouco as horas , os instantes , os desejos .

 
 Sim ... E o Nada converteu-se em Tudo .
O Tudo derivou-se sem compaixão .
Nada mais se movimentava, estava mudo .
Nós éramos o Tudo, ânsia , volúpia, paixão .
 
 
 

Rosy Fonseca .... Nov/2013

Todos os direitos reservados
 

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Minha Estória


Afasto-me de ti.
Minha mente parece
Num oco desfolhar-se.
Aqui, minha alma padece.
 

Prazeres correm em vão.
Por dentro tudo falece.
Porém o vulto da tua presença
aqui não me adormece.
 

Sou tua luz.
O vôo de um pássaro
espalhando a poeira
de um livre rastro.
 

Muitos rumos no teu pouso,
também sou.
A fresta do teu amor
na grama fresca da noite.
 

Despeço-me de ti.
O sereno não arrefece
meu peito em aflição
para que eu aqui dissesse:
 

Te adoro, e não posso.
A verdade me aborrece.
Enfim tua vez não é minha;
é do mundo, que aqui me esquece. 

Rosy Fonseca 1977

( todos os direitos reservados)
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Solidão


Corre, corre ave cor,
tão só, tão melancólica dor.
Fecha e abre estas asas
a um só tempo, de um só lamento.

 

Na procura dos teus cantos,
no pouso dos teus devaneios.
De amargura ao abandono,
engoles para ti teu intento.
 

Não tens mais o que percorrer,
se não há para quem gritares.
E o ar , de vôo a vôo...
é vã esperança em contravento .
 

Corre, corre ave cor.
Tão só, fria e pungente dor.
Canta e dança em teu plainar.
Foge e morre em teu penar.
 

Rosy Fonseca/  1983

(todos os direitos reservados)
 

 

domingo, 17 de novembro de 2013

Perda


Perdi a ti como quem perde o ar
malogrado de uma simples conveniência,
revertido à troca de tola imprudência
estirada as soltas a madrugar.
 

Perdi teu chão como quem chega a tombar
de canto a canto em pura dolência,
aos abstratos de nula fremência
que nem teus mistérios eu pude afagar.
 

Como se obrigada eu fosse no entanto,
errando meus certos erros que a espanto
de mim mesma , não pude entender-me.
 

Sofri por não suprir-te o alento.
Sofri por sofrer e só por isso eu lamento
que perdendo-te eu vim a perder-me .
 

Rosy Fonseca/ 1979

( todos os direitos reservados )
 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Correnteza

Suave como ave branca,
eu paro estática e sinto
nas linhas perenes do rio
uma evolução de águas.
 
Uma bela marcha em giros
de lerdo e manso desnível.
Uma livre agitação branda
deslizando em sonoras pautas.
 
Um áspero vento me empurra,
estende-me à terra baixa.
Desdobra-me com farta cobiça,
com cheiro de sedução.
 
E as águas em andamento
revestem meu corpo impulsivo.
E com barulho de correnteza
vão aumentando sem medo.
 
Rolam por todos os cantos,
rolam beijando minha boca.
Fluem por todos os lados,
fluem tomando-me desnuda .
 
Essa águas que brotam arrojadas,
águas que louvam delírios.
Talvez sejam miragens atraídas
que minh’ alma apressada exija.
 
Visões que não posso tocar,
que inundam-me sem me molhar.
Fascinações que não posso suprir,
que acusam-me sem comprometer.
 
São águas que em correnteza
ocupam total a minha razão.
E largam-me desprotegida
nesta vasta e perdida ilusão. 
 
Rosy Fonseca /1978 
 Todos os direitos reservados
 
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Teu Sonho


Disponha-te em teus gritos,
em teus sussurros angustiados,
que te trajam as noites
de uma saudade incontrolável.
 

Assuma teus movimentos,
o oco de profunda carência,
que se crava em teus passos
te impossibilitando de reagir.
 

Aperta teu peito cansado
afogado em mil prantos ,
que lamenta a falta incenssante
do calor que exalta o meu.
 

Admita esta fria solidão
que se prega em teus pensamentos,
que te encerra os olhos molhados
te encostando pra dormir.
 

Esqueça a triste distância,
a inconsolável impaciência ,
e deixa que um suspiro glorioso
venha me buscar para o teu sono.
 

Aparecerei como núvem flutuante,
como gotas de orvalho prateado.
Serei tua musa inspiradora,
tua satisfação intocável.
 

Terei minhas formas sensuais
nas bases da tua imaginação.
Farei-me matéria divina
para o contentamento do teu sonho.
 

Agarra-te nestes instantes,
e acorda revivendo-os.
Cubra-te de fixas lembranças
e construa-te novamente. 

 

Rosy Fonseca/  1978

todos os direitos reservados
 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aspiração


Como eu desejo perder-me em um momento de paixão e nele viver intensamente .
Sem perceber que ao meu redor estão as horas , o tempo , o mundo .
Ahhhh , como eu desejo …. 

 

Degradar em dilúvios qualquer sentimento lúgubre.
Então demasiar-me em amores, tantos amores, mas só para ti .
Sei que teria o por do sol ao meu lado e fugiria excessiva`a tua procura. 

 

No jardim, todas as flores me perfumariam , e a brisa do mar adornaria meus olhos .
Como eu desejo desprezar todas as mágoas que me impedem de agir.
Abandonaria qualquer aflição que me reprimisse e correria extasiada para os teus braços. 

 

Ahhhh,  como eu anseio entre o orvalho da noite encontrar-te  aos  sorrisos meus  .
E sentir-te em suspiros as carícias  ofegantes dos meus .
Sim , como eu desejo ... 

 

Rosy Fonseca/ 1978

 

Todos os direitos reservados....