segunda-feira, 22 de julho de 2013

MINHA DESPEDIDA




Quando este mundo se ascende
reflete-me raios sem me acudir.
Eu me desmonto ao que se pretende
deixar-me vazia sem eu pedir.
 

Novamente eu releio a história
que me acerca por anos afim.
Ou se não é sem texto e sem glória
que ela não trata da pena de mim.
 

Estou com ela me acostumando
por pleno enredo largado em apuro.
Pelo meu punho ela vem se armando
a transformar meu rumo em impuro.
 

Atinge-me forte uma devassidão
que aos poucos venho desiludindo.
Por tudo e por todos sou a gratidão
que obriga-me a estar me despedindo.
 

De cada flor que eu aprazerei.
De cada pessoa que eu antevi.
De todo amor que eu procurei.
De cada sonho que sequer vivi.
 

Deixo aqui este pobre horizonte.
Meu semblante é terra desmedida.
No luar que se fecha à minha fronte
sou solidão, minha própria despedida.
 

ROSY FONSECA /  1988

(todos os direitos reservados)
 
 






 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

AINDA


Quando chove nos brilhos escuros
dos meus olhos sensíveis, obscuros,
tão fundos e eu ainda te vejo .
 

Quando sopra rumores, poentes
nos meus lábios sedentes e quentes,
tão densos e eu ainda te beijo .
 

E se a rua que passa depressa
correndo os meus passos, promessas,
tão sérias e eu ainda te ensejo.
 

Como a voz que se cala molhada
na minha pele ávida , banhada,
tão inquieta e eu ainda te almejo.
 

Nestas noites de negros perfis
do meu rosto em delírios me fiz,
tão ardentes e eu mais te desejo.
 

ROSY FONSECA / 1989

(todos os direitos reservados)
 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Vivo a Te Amar


Tarde do ocaso, do tempo desprotegido.
Meus olhos anoitecem em prantos.
N’alma um pobre deserto partido,
uma saudade disposta em quebrantos .
 

Aspirações ternas que aqui me sobejam
os sonhos da tua constância : brumas
de encantos que a mim gracejam
lembranças banhadas em cor de espumas .
 

E tudo que de nós não se separa
eu sinto forte, num claro poente aberto
a aquecer meu coração que dispara .
 

Estás longe, bem sei, mas vivo a te amar.
Vivo o vulto que deixaste descoberto,
até teu regresso que demora a chegar ...
 

ROSY FONSECA -  1980

todos os direitos reservados .
 
 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

A CADA PARTIDA

Uma melancolia me tortura a cada vez que tu partes…
 

E tu segues , segues ...
Levas contigo o ar que me entorpeceu.
Deixas-me aqui desnuda, ofegante .
Esse ar que comumente eu bebia
com carícias sem nenhuma fobia . 
 

E tu pedes , pedes ...
Com autoridade a minha vã  solidão .
Com soberania todos os batimentos
do meu coração tão insistentemente .
Queres meu peito tão persistentemente . 
 

E tu corres, corres ...
De repente não consigo mais te avistar,
nem te ouvir , nem te tocar ...
Já não sustento a minha mão na tua .
Quanto menos meus beijos em boca tua .
 

E tu partes , partes ...
Partes carregando meus desejos contigo,
meus sentidos para os teus delírios .
Roubas meu sorriso repleto de paisagens.
Matas-me de saudade infinita de miragens .
 

Uma melancolia me tortura a cada vez que tu partes... 

Rosy Fonseca/ 2013

Todos os direitos reservados .
 

sexta-feira, 5 de julho de 2013

AMARRAS


Mundo apertado, indigno.
Injúrias do meu passado.
Sofreguidão insensata .
Lembranças atropeladas por dor.
 

Já não sei mais o que é dia .
Vem a noite e me alucina .
Meus olhos já não enxergam.
Não sei onde durmo, onde amanheço. 
 

Paraliso os meus movimentos
não querendo ; mas exigindo.
Amarro-me invisivelmente.
Atada me aquieto, permanente .
 

Persigo-me a cada segundo
e perco-me dentro de mim .
Alucinações ? Realidades ?
Procuro respostas dissipadas no ar.
 

Ouço sons que me entorpecem .
O tilintar agudo das dúvidas .
Quisera o dedilhar dos anjos
em harpas o meu sono embalar.
 

Não me vejo, não me ouço .
Estática, persevero inerte .
Vislumbro soltar as amarras,
invadir-me , percorrer-me ...
 

Insultar o meu peito que flama,
e assim tentar enfrentá-lo .
Com gritos o meu coração acordar.
A ambos ordená-los viver .
 

Viver a cada ínfimo instante.
De alegrias e prosas me alimentar.
Viver a todo íntimo instante .
De emoções e razões me abraçar .
 

Quero largar-me de mim ...
Quero livrar-me de mim ...
Quero descortinar outro “Eu”...
Encontrar. Permanecer. Ficar ...
 

ROSY FONSECA  / Julho – 2013

(todos os direitos reservados )
 
 

 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Pedaço de Céu Azul


Ainda me lembro com ternura
daquele riacho volúvel,
do meu semblante inocente ,
pedaço de céu azul.
 

Você, vestido de poesia
me cantarolava baixinho
tanto  amor e sonidos
que me iludiam sorrindo.
 

Temidos pareciam seus olhos
que dirigiam-me súplicas.
E eu , indefesa, calada,
subjuguei-me perdida.
 

Perdida de encantos e sonhos
desfilando tão docemente.
Plainando sobre a verde folhagem
de fantasia e orvalho.
 

Você , me olhava brincando.
Eu era ainda menina…
Seu jeito me intimidava,
mas meu peito não podia saber.
 

Que agora, tão depois disto tudo,
começo a te revelar meu alento,
meu coração de mulher,
pedaço de céu azul. 

Rosy Fonseca/1977 todos os direitos reservados
 
 

terça-feira, 2 de julho de 2013

A ESTRELA

Hoje acordei com uma estrela !
Uma luz de meiguice enlevou-me
e um sonho de encantos me amou.
 
Com a estrela deitei-me no ar.
Viajei um mundo tão lindo
onde os pedaços do céu eu contei.
 
Eram todos azuis e serenos
e encontrei um tão verdadeiro
que guardei-o como se inteiro.
 
Eu voei como uma gaivota
de alva cor feito a pureza
do sentimento que a mim alcançou.
 
Cada vôo irradiou a esperança
aos meus olhos exigindo o calor
do meu peito a implorarar por amor.
 
Fiz desta ternura o meu jardim
que  no céu floresceu reluzindo
carinhos por todo o meu corpo . 
 
Senti a eterna lembrança
em núvens as quais deleitei
de alguém que há muito esperei.
 
Fitei  emoções e desejos ,
meus devaneios transparentes.
Mas só, eu não pude tocá-los.
 
Então corri o azul deste céu,
caí triste nas profundezas do mar,
e a estrela de mim desgarrou-se …
 
Hoje acordei com uma estrela !
Uma luz de meiguice enlevou-me
e um sonho de encantos me amou.
 
Porém o amanhecer cintilante
nesta noite em delírios se apagou
numa estrela que um dia chorou.
Rosy Fonseca/ 1983 todos os direitos reservados