quinta-feira, 19 de setembro de 2013

RENASCER


Já nasci , já morri , renasci ...
Já nem sei o que mais me calou .
Se foi do mar a espuma que abri ;
ou dos teus olhos que a noite se foi .
 

Nem mesmo a tarde que em versos sorri .
Tão pouco a chuva que um dia chorou .
Chorou ausente bem longe de ti ,
que nem sequer o teu peito afagou .
 

Pedaço de chão, um sonho , o luar .
O canto carente  dos beijos no ar .
A sombra acolhida das folhas molhadas.
 

Que caem no tempo após madrugar .
Revivem de novo em outro lugar .
E te levam pra sempre , desesperadas .
 

ROSY FONSECA / 1980

( todos os direitos reservados )
 
 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

VONTADE


Como é lindo lembrar o que eu era ...
A cada passo em que fiz meu andar,
a cada gesto em pude encontrar
toda uma força , ai quem me dera ...
 

Que eu tivesse nas mãos uma chance
de retomar pelas nuvens meus mitos ,
de almejar meus desejos aflitos ,
mas que agora se dispersam do alcance.
 

Fui me esquecendo em horas, instantes.
Pedaços de mim caindo incessantes .
Sobras minhas rastejando alarmantes .
 

Só não pensei que voltaria a vontade
de amar o que então se faz hoje saudade,
de viver o que não é mais a realidade .

 

ROSY FONSECA / 1983

todos os direitos reservados .
 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

SE EU PUDESSE ...


Se eu pudesse
chamar-te de meu ...
Na minha vontade eu tanto te quero.
Na minha vaidade eu tanto te esmero.
Como eu te espero ...
 

Se eu pudesse
chamar-te de meu ...
Na minha coragem eu tanto te almejo.
Na minha paisagem eu tanto te vejo.
Como eu te gracejo ...
 

Se eu pudesse
chamar esse mundo
que de mim esconde diariamente
um amor que sinto profundamente.
De um gosto tão doce e terno.
De um sentido tão frágil e eterno.
Sei que amo ,
e isso é belo .
 

Se eu pudesse
chamar esse tempo
que de mim foge e logo se esquece
desse amor que já me entorpece.
Só eu sei o quanto ele envolve
os meus gestos e não me devolve
o que mais cortejo,
e é teu ser .
 

Se eu pudesse
chamar esse mar
para beber toda a sede que tenho.
Para molhar de paixão quando venho
à tua imagem pálida , resguardada ,
à tua face de beijos inundada.
Sonho contigo,
e é infinito .
 

Se eu pudesse
chamar esse chão
que por mais que eu tente firmar,
ele parece de mim dizimar
todo o sustento de instantes e horas.
Pois te carrega sem rumo afora.
Eu fico só,
e é para sempre .
 

Se eu pudesse
chamar-te de meu ...
Na minha alucinação eu tanto te enlaço.
Na minha intenção eu tanto te faço.
Como eu te abraço ...
 

Se eu pudesse
chamar-te de meu ...
Na minha saudade eu tanto te choro.
Na minha verdade eu tanto te imploro.
Como eu te adoro ...


 

ROSY FONSECA / 1990

( todos os direitos reservados )

 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Miragem de Amor


Te encontro em meus sonhos.
em meus desejos mais ardentes .
Tremo meus sentidos por dor
de não poder ver-te em mim .
Não é mais sonho ; é realidade ,
porque te sinto como saudade .
 

Tento fugir a cada minuto
que me sentencia por culpa
de ter te encontrado um dia
e  te roubado para a minha vida .
Mas tu não sabes de nada ,
que sofro por não ter-te , calada.
 

Como eu te quero , só eu sei ...
Como eu te espero , eu não sei ...
E sequer em teus próprios olhos
consegues a minha imagem enxergar.
Pois tu buscas fingir e sumir ,
silenciando-te sem me iludir .
 

Mas meu peito já tão ferido
pela ausência do teu apego ,
chora de aflição  a verdade
que tu nem chegas a perceber .
O quanto eu temo por  imaginar
que tão louca eu venha a te amar .
 

ROSY FONSECA / 1989

todos os direitos reservados
 

 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Se acaso eu perder-te


Se acaso eu perder-te, que mal faz-me imaginar ...
Mastiga-me todo esse pensamento árduo,
que põe em clausura meu vão sentimento
capaz de arranhar-me o coração como gume.
 

Uma fagulha fatal acabaria entalhando-me
o peito que gritaria até destruir-me .
Um arco de agudas lanças, findas esperanças ,
exilariam incessante o meu corpo aflito.
 

Gotas de sangue derramariam derivadas.
Muralhas de pedras sobre o meu caminho.
Um drama desenfreado , cruel martírio .
Amargas lágrimas em desespero por ti .
 

Arruinariam-me com voracidade de garras.
E eu simplesmente, não resistiria ...
Sobreviver fria e desenganada , me nego .
Se acaso eu perder-te , prefiro morrer .
 

ROSY FONSECA ( 1979)

todos os direitos reservados
 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Espelho


Quanto tempo é passado em imagens impregnadas
no espelho emoldurado por minha alva adolescência .
A cada vez eu reflito as memórias por mim decoradas
em brilhantes cristais que me iluminam sem confidência.
 

Como é suave o liberar das lembranças mil facetadas
das histórias de anos vividas com tão pouca evidência .
Como é leve respirar novamente todas as paixões ousadas,
e reviver uma a uma como se hoje , na mais pura essência .
 

Posso jurar que sorrisos me alegram a face ao dormir.
Posso provar que lágrimas me inundam a face ao sonhar.
Momentos e minutos que me ilusionam sem eu acordar.
 

Nos delírios dos meus encantos de adolescente a fluir.
Nos devaneios dos meus mais belos amores a assanhar.
Mas que pelo espelho agora não consigo mais desnudar .

Rosy Fonseca/2013

Todos os direitos reservados
 

domingo, 1 de setembro de 2013

Ideal


O poente de azul celeste derrama ilusões.
As pupilas de negros perfis descobrem visões.
E as nódoas em forte luzir consomem o meu ser.
Um candelabro de lânguida luz ostenta o perdão.
Uma varanda de ameno florir consente a pureza.
E sua presença de tão oportuna se exalta ao meu ver. 

 

Já não seria inesperado,
não revelaria uma história,
mas confirmaria um amor.
Por tanto querer , suportei
as vezes que me neguei a crer
a encerrar enfim esta paixão.
À exatidão eu me dirijo agora,
pois a cada passagem, uma volta,
e a cada volta, você … 

 

Um  templo de ternas névoas isola temores.
Um fole de leve compasso sopra venturas.
E um sereno de eterna vigília plaina ao escurecer.
O céu em cinza tolhido me acode calado .
Minha mão em suave aceno oscila um agrado.
E o ideal em lúbricas purpurinas me entrega a você. 

 

Rosy Fonseca/ 1978

todos os direitos reservados.
 

Rotina


Cada noite deserta, cada manhã perdida...

Eu acordo e você está longe. 

Em meus olhos, uma profunda tristeza 

que se entrega a uma visão sombria . 

Meus passos guiam-me a um lugar infinito, 

e meus braços se encolhem de frio. 

No mar, as ondas desenham sua imagem, 

e o vento a enfeita de movimentos. 

Na areia, as marcas de cada momento vivido 

e que os dias e noites vão apagar. 

Meus desejos não sustentam amarga aflição. 

Corro a procura de um doce encanto , 

mas não consigo suprimir solidão tão dolorosa. 

Chamo seu nome que parece desaparecer

entre as folhas de outono ; pois você não ouve. 

Nele se agarra cada lágrima que não posso conter, 

cada lembrança que não posso esquecer. 

Como cada passo meu é extinto… 

Como cada gesto meu é partido… 

E você cada vez mais é meu dia, 

que me retorna a mesma noite deserta, 

à mesma manhã perdida ... 

 

ROSY FONSECA / 1977
 

Todos os direitos reservados .