quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Minha Estória


Afasto-me de ti.
Minha mente parece
Num oco desfolhar-se.
Aqui, minha alma padece.
 

Prazeres correm em vão.
Por dentro tudo falece.
Porém o vulto da tua presença
aqui não me adormece.
 

Sou tua luz.
O vôo de um pássaro
espalhando a poeira
de um livre rastro.
 

Muitos rumos no teu pouso,
também sou.
A fresta do teu amor
na grama fresca da noite.
 

Despeço-me de ti.
O sereno não arrefece
meu peito em aflição
para que eu aqui dissesse:
 

Te adoro, e não posso.
A verdade me aborrece.
Enfim tua vez não é minha;
é do mundo, que aqui me esquece. 

Rosy Fonseca 1977

( todos os direitos reservados)
 

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Solidão


Corre, corre ave cor,
tão só, tão melancólica dor.
Fecha e abre estas asas
a um só tempo, de um só lamento.

 

Na procura dos teus cantos,
no pouso dos teus devaneios.
De amargura ao abandono,
engoles para ti teu intento.
 

Não tens mais o que percorrer,
se não há para quem gritares.
E o ar , de vôo a vôo...
é vã esperança em contravento .
 

Corre, corre ave cor.
Tão só, fria e pungente dor.
Canta e dança em teu plainar.
Foge e morre em teu penar.
 

Rosy Fonseca/  1983

(todos os direitos reservados)
 

 

domingo, 17 de novembro de 2013

Perda


Perdi a ti como quem perde o ar
malogrado de uma simples conveniência,
revertido à troca de tola imprudência
estirada as soltas a madrugar.
 

Perdi teu chão como quem chega a tombar
de canto a canto em pura dolência,
aos abstratos de nula fremência
que nem teus mistérios eu pude afagar.
 

Como se obrigada eu fosse no entanto,
errando meus certos erros que a espanto
de mim mesma , não pude entender-me.
 

Sofri por não suprir-te o alento.
Sofri por sofrer e só por isso eu lamento
que perdendo-te eu vim a perder-me .
 

Rosy Fonseca/ 1979

( todos os direitos reservados )
 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Correnteza

Suave como ave branca,
eu paro estática e sinto
nas linhas perenes do rio
uma evolução de águas.
 
Uma bela marcha em giros
de lerdo e manso desnível.
Uma livre agitação branda
deslizando em sonoras pautas.
 
Um áspero vento me empurra,
estende-me à terra baixa.
Desdobra-me com farta cobiça,
com cheiro de sedução.
 
E as águas em andamento
revestem meu corpo impulsivo.
E com barulho de correnteza
vão aumentando sem medo.
 
Rolam por todos os cantos,
rolam beijando minha boca.
Fluem por todos os lados,
fluem tomando-me desnuda .
 
Essa águas que brotam arrojadas,
águas que louvam delírios.
Talvez sejam miragens atraídas
que minh’ alma apressada exija.
 
Visões que não posso tocar,
que inundam-me sem me molhar.
Fascinações que não posso suprir,
que acusam-me sem comprometer.
 
São águas que em correnteza
ocupam total a minha razão.
E largam-me desprotegida
nesta vasta e perdida ilusão. 
 
Rosy Fonseca /1978 
 Todos os direitos reservados
 
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Teu Sonho


Disponha-te em teus gritos,
em teus sussurros angustiados,
que te trajam as noites
de uma saudade incontrolável.
 

Assuma teus movimentos,
o oco de profunda carência,
que se crava em teus passos
te impossibilitando de reagir.
 

Aperta teu peito cansado
afogado em mil prantos ,
que lamenta a falta incenssante
do calor que exalta o meu.
 

Admita esta fria solidão
que se prega em teus pensamentos,
que te encerra os olhos molhados
te encostando pra dormir.
 

Esqueça a triste distância,
a inconsolável impaciência ,
e deixa que um suspiro glorioso
venha me buscar para o teu sono.
 

Aparecerei como núvem flutuante,
como gotas de orvalho prateado.
Serei tua musa inspiradora,
tua satisfação intocável.
 

Terei minhas formas sensuais
nas bases da tua imaginação.
Farei-me matéria divina
para o contentamento do teu sonho.
 

Agarra-te nestes instantes,
e acorda revivendo-os.
Cubra-te de fixas lembranças
e construa-te novamente. 

 

Rosy Fonseca/  1978

todos os direitos reservados
 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Aspiração


Como eu desejo perder-me em um momento de paixão e nele viver intensamente .
Sem perceber que ao meu redor estão as horas , o tempo , o mundo .
Ahhhh , como eu desejo …. 

 

Degradar em dilúvios qualquer sentimento lúgubre.
Então demasiar-me em amores, tantos amores, mas só para ti .
Sei que teria o por do sol ao meu lado e fugiria excessiva`a tua procura. 

 

No jardim, todas as flores me perfumariam , e a brisa do mar adornaria meus olhos .
Como eu desejo desprezar todas as mágoas que me impedem de agir.
Abandonaria qualquer aflição que me reprimisse e correria extasiada para os teus braços. 

 

Ahhhh,  como eu anseio entre o orvalho da noite encontrar-te  aos  sorrisos meus  .
E sentir-te em suspiros as carícias  ofegantes dos meus .
Sim , como eu desejo ... 

 

Rosy Fonseca/ 1978

 

Todos os direitos reservados....
 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Desespero


Da vida que me desdenha
já não posso mais sorrir.
Se antes havia a esperança
hoje em lágrimas se fez.
 

Assim que as luzes do mundo
aos meus olhos apagaram-se,
os sonhos dos meus desejos
diluíram-se pouco a pouco.
 

Meus anseios foram travados.
Meus pensamentos exilados.
E a força do meu sustento ,
eu agora preciso encontrar.
 

Para gritar de improviso
a discórdia que me arrasta .
Fugir desta opressão fria,
sumir e não mais voltar. 

 

Rosy Fonseca/ 1978

(todos os direitos reservados)
 

sábado, 9 de novembro de 2013

Angústia


Como é bom lembrar o que eu era …
A cada passo em que fiz meu andar.
A cada gesto em que pude encontrar
toda uma força, ai quem me dera ...
 

Que eu tivesse nas mãos uma chance
de retomar pelas nuvens meus mitos.
De almejar meus desejos aflitos,
mas que agora se dispersam do alcance.
 

Fui me esquecendo em horas, instantes.
Pedaços de mim chorando incessantes.
Sobras de mim rastejando alarmantes.
 

Só não pensei que voltaria a vontade
de viver o que então se faz hoje saudade,
de amar o que não se faz mais realidade.
 

Rosy Fonseca/ 1983

todos os direitos reservados