terça-feira, 29 de outubro de 2013

Minhas Palavras


Noite escura.
Como venta...
No céu as núvens enfeitiçando-se
emitem um cinza brusco de tempestade.
De repente
a chuva cai retorcendo-se arisca no ar,
embalsamando forte sua transparência.
Quando atinge o chão triunfante ela o fere
não tarda,
e descansa .
Parte daí uma agonia que me treme,
uma carência de aconchego
que deixa-me só,
paralisada por tédio.
Eu gostaria de trazer-te aos meus braços agora !
Beijar-te,
prestar-me a ti,
satisfazer-me em ti.
Viver em meu corpo os prazeres do teu.
Tragar o teu peito sem pressa .
Inundar o teu ser de paixão.
Desejo-te completamente.
Eu quero, como eu quero…
Parte-me então meu coração triste,
dilacerado em dor crua e amarga.
Imobiliza-me mais e mais,
mata-me de sede e aflição.
Faz-me esperar escondida.
Obriga-me, obriga-me, obriga-me...
Eu tento.
 
Penso que tento e não consigo.
Tua distância me despedaça calada.
Meio menina , meio mulher.
 
Ao meio desta mesma noite.
À meia luz do meu sempre quarto.
Ao meio tempo do meu todo leito.
À meia voz do meu quase sonho .

 

Rosy Fonseca/ 1978

(todos os direitos reservados)
 
 

 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Prelúdio


E aqui vem mais um dia…
É mais uma dor, uma pedra que não se afasta de mim.
Vem devagar e não sabe o quanto roguei para um novo tempo enternecer.
Ninguém duvida, mas também não imagina que tanto consagrei o azul, o horizonte, o perdão.
Que fiz esvoaçar o apego que em prelúdios passados me acorrentava.
Eu procuro a paz !
Enfim, todos me rodeiam, poucos me apoiam, raros me estimam.
É um âmbito perplexo, incerto , indefinido.
São idéias volúveis e atitudes inconstantes que vejo comumente.
Mas deixe estar...
Parece-me que sou tão diferente...
Só atormenta-me tentar viver iludida para não sofrer, para não deixar que essa onda desabitada tome conta de mim.
Ah , meu pequeno mundo...
Tudo é tão confuso e quase nada indica o justo caminho a seguir.
Sempre digo o que penso docemente…
E se aquilo que digo é fundamental, meu coração pulsa tão mais consistentemente...
Ah, meu pequeno mundo...

 

Como seria bom que um dia amanhecesse escuro …
Para que todos pudessem abrir os olhos e nada enxergar .
Olhar para dentro de si mesmos e crer na força que trazemos interiormente .
Iluminarmo-nos de dentro para fora , e irradiar esta luz ao redor do mundo .
E assim , o dia amanheceria puro , claro e reluzente .
Nosso grande mundo !!! 

Rosy Fonseca / 1977

todos os direitos reservados )
 

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Opressão


Chove. E não consigo mais alentar
um pingo sequer desta chuva,
que molha-me feito maldade
a ponto de me enlouquecer. 

 

Choro. E já não posso desentocar
os olhos afogados em pranto.
Meu peito , sinto-o arder magoado
a esconder meu sorriso morto.

 

Como eu queria um palmo de luz,
um raio de esperança pródiga,
um foco de estrelas flamantes
a perpetuar sobre o meu destino.

 

Até um balanço de mar,
um horizonte que então banhasse
cor por cor, dor por dor,
cada pedaço de meu caminho.

 

Pobre do meu sonho dourado
que nunca mais brilhou; acordou.
Pobre da minha meiga ilusão
que desapareceu pelas trevas.

 

Eu só queria renascer para o sol
revivendo-o dentro de mim.
Criar forças e tanta audácia
para erguer meus olhos marcados.

 

E em cada metade do meu sustento
que não decaíssem as flores,
que não destruíssem o tempo,
tão pouco o amor, como eu queria...

 

Rosy Fonseca/ 1979

(todos os direitos reservados)
 

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

SONHOS : MINHA VIDA


Por tudo o que há neste ar,
ver a mais leve pluma voar.
No mais lindo céu , doce mar,
pois em tudo o que sinto há luar.
 

Mas sou luz sem claridade,
um canto sem som, nada mais.
Um barulho de água que seca
as bocas sedentas de paz.
 

Meu Deus, enfim quem sou eu ?
Tanto me pego a perguntar.
E me puno, me prendo, me calo,
me guardo sem imaginar.
 

Sempre fui algo em suspense.
Sempre sonhei minha vida.
Porém toda uma vida
foge de mim sem cessar.
 

Sonhos, meus sonhos e nuvens,
vivo sempre a vos requerer.
Meu instante certeiro a saber
que sou a tal pluma a voar …
 

ROSY FONSECA / 1983

( todos os direitos reservados) 
 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Satisfação


Irá brotar esfomeado o ensejo
que inúmeras vezes idealizamos aflitos. 
Rogando que não se prolonguem os dias, 
estas horas agoniantes sem liberdade.
 

Pois existirá tanta garra e entusiasmo,
mãos  espalmadas escorregando firmes 
pela maciez brusca e também alva
desvendando rápido segredos audaciosos.
 

E quando em luzes a tua ávida cobiça
apanhar-me, descobrir-me, despir-me, 
quero um horizonte fluindo em espumas 
derramando quente a suavidade na cama .
 

Vou saciar totalmente o teu prazer… 
vais sentir pleno, ofegante o teu ímpeto .
Quero um ar secreto, passivo, concreto, 
um clima fresco de grama orvalhada. 
 

Sentirás da minha pele úmida, lavada 
pelos teus lábios hesitantes, molhados,
o gosto , o sabor , o cheiro , o calor 
que te fará carnal banhar-te em meu mar. 
 

Enquanto a cada segundo um suspiro… 
Nossas bocas sensuais e atadas. 
Um gemido de satisfação realizada 
por mim, por ti, entre nós , assim.
 

Rosy Fonseca/1978

(todos os direitos reservados )